quinta-feira, 10 de julho de 2014




O diretor Wes Anderson, que já estava acostumado a ousar e fugir do insosso e burocrático senso comum de filmar avança ainda mais nesse seu filme mais recente. O GRANDE HOTEL BUDAPESTE, seu oitavo longa-metragem, é um primor nos dois aspectos mais interessantes de uma obra cinematográfica: visual e narrativa. E o melhor é que os dois andam de braços dados para contar a história do hotel homônimo cheio dos excêntricos e costumeiros personagens do diretor.

A ação acontece em quatro planos temporais distintos, inteligentemente montados, mas sem excesso de pedantismo que implique em qualquer dificuldade ao entendimento da trama: uma jovem lê uma obra literária sobre o hotel do título, entregando a ação ao autor do livro, que surge em primeira pessoa para narrar o período em que esteve hospedado no local, voltando cerca de trinta anos no tempo, com a ação apresentando o proprietário do espaço, que numa conversa particular lhe revela a história do antigo concierge do Hotel Budapeste, Monsieur Gustave. Wes aproveita os quatro momentos temporais para desfilar uma galeria de interessantíssimos personagens, vividos por habituais e novos colaboradores do diretor – Tom Wilkinson, F. Murray Abraham, Jude Law, Tilda Swinton, Adrien BrodyWillem Dafoe, Mathieu AmalricSaoirse Ronan, Edward Norton, Owen Wilson, Jason Schwartzman, Harvey Keitel, Jeff Goldblum, Bill Murrray, Ralph FiennesLéa Seydoux – que encenam seus dramas em um delicioso tom cômico que beiram a ironia e abrem espaço para sequências inusitadas envolvendo crimes e assassinatos, perseguições, mistério e romance (tente não se apaixonar pelas atuações de Fiennes, Swinton e do estreante Tony Revolori).

O diretor é quase um seguidor do postulado forma-função e constrói um cenário sensacional para a representação desse texto. Da espetacular arquitetura do Budapeste às paisagens da fictícia nação Zubrowska, onde o hotel se encontra, tudo parece planejado em suas minúcias e executado com extremo rigor, como se o diretor objetivasse tornar possível um mundo que não existe mais (ou que talvez nunca tenha existido). Direção de arte, fotografia, figurinos, maquiagem, movimentos de câmera e trilha sonora se tornam uma engrenagem perfeita aos propósitos do cinema que Wes Anderson faz. E da belíssima rigidez centralizadora de seus planos e enquadramentos surge um dos filmes cujos aspectos plásticos se tornam pulmão da obra cinematográfica, possivelmente o melhor dos trabalhos do diretor.
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Para ver: O GRANDE HOTEL BUDAPESTE (The Grand Budapest Hotel2014, de Wes Andeson). Com Ralph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Jude Law, Willem Dafoe, Edward Norton, Saoirse Ronan, Tilda Swinton).
Cotação: 


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