segunda-feira, 1 de setembro de 2014


Com LUCY, o cineasta francês Luc Besson volta a pisar no terreno do thriller de ficção científica que, possivelmente, lhe rendeu sua maior fama internacional até os dias de hoje, com O QUINTO ELEMENTO. E, se tratando de um tema que conhece, encontra um modo bastante convincente para explorá-lo bem. O que o torna seu novo filme especial é que Besson escolhe um plot que de tanto dito por aí, quase já virou verdade (mesmo que ninguém nunca tenha sequer passado perto de comprová-lo): o mito de que o homem usa apenas 10% de seu potencial cerebral para toda e qualquer atividade que desempenhe.  E com a popularização de um ‘mito-quase-verdade’ nas mãos, o diretor brinca com as possibilidades que o amplo cenário se apresenta para o público, abrindo mão de máquinas e parafernálias tecnológicas em excesso.

A personagem título, uma moça oportunista vivida por Scarlett Johansson, é acidentalmente jogada no meio de um incidente que faz aumentar potencialmente sua atividade cerebral. A partir de então, ela entra em contato com possibilidades extraordinárias de ações que desafiam a ciência, a física e a lógica. Mas o recado que Besson quer dividir, depois de muita experimentação e diversão (perseguições, tiros e sequências de tirar o fôlego, como a que acontece dentro de um avião no ar), é que se talvez nossa inteligência tenha sucumbido diante dos inúmeros neurônios não utilizados, é que possivelmente os sentimentos humanos tenham algum complemento à arte de pensar - o que, de certa forma, explicaria as muitas falhas do roteiro.

E sob esse aspecto, é possível que o medo seja o centro de tudo aquilo que Besson deseja para construir sua personagem humana e existenciar sua raça. Através da ótima atuação de Scarlett, que aos poucos vai esquecendo seus limites para aceitar qualquer coisa, correndo contra o tempo, acelerada feito máquina, antecipando seu destino inerte; seja pelas boas inserções visuais que colam as sensações dos homens nas dos animais (novamente com o medo e a apreensão); ou pela progressão do passado, um dos momentos mais deslumbrantes do filme, que pode ser encarado como um movimento legitimador do ser vivo pela busca desenfreada pelo ultra conhecimento tecnológico que os ambientalistas já apontam como o princípio do fim, panorama que ironicamente Besson parece assinar embaixo.
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Para ver: LUCY (idem2014, de Luc Besson). Com Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Choi-Min sik, Amr Waked).
Cotação

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