David Fincher abre seu novo filme, GAROTA EXEMPLAR, com um close na cabeça de Rosamund Pike e as perguntas em off do
personagem interpretado por Ben Affleck,
que vive seu marido, disparam a incerteza sobre um relacionamento aparentemente
perfeito: ”O que você está pensando? O que você está sentindo?”. A partir de então, o trio vivido pelo diretor
e atores sai em busca dessa racionalidade insana que permeia as situações
cotidianas de um casamento que parte de um intenso clima de romance para um
incrível jogo de cinismo e falsidade entre o casal. É um inteligentíssimo suspense
de investigação, incrivelmente bem escrito (baseado no best-seller literário de Gillian Flynn, que também é a 'dona' do roteiro) e que recicla boas fórmulas em uma direção estupenda de Fincher, que segmenta a narrativa em
duas partes (a primeira coloca Affleck no centro da trama, a segunda é toda de
Rosamund Pike), permeadas por flashbacks que justificam cada segundo da ação,
sem deixar que a divisão fragmente seu filme. Fincher constrói cenas grandiosas
de tensão, crimes e investigação, com grande subversão contextual, uma vez que
o objetivo da discussão proposta desde a primeira cena permanece no dorso de
seu filme até a última sequência. É bom ficar de olho na atriz
principal, Rosamund Pike, pouco conhecida do público brasileiro e que entrega uma
das personagens mais odiosas que o cinema já mostrou desde a enfermeira Ratched
de “Um Estranho no Ninho”, de 1975, em uma atuação grandiosíssima e cheia de
camadas.