quinta-feira, 9 de maio de 2013


François Ozon já andou sendo apelidado de “Woody Allen francês” pela imprensa e críticos, tamanha facilidade que tem de transitar pelos muitos gêneros cinematográficos – o musical (Oito Mulheres), o suspense investigativo (Swimming Pool – À Beira da Piscina), o drama humano (O Tempo Que Resta), o romance (O Amor em Cinco Tempos) e a comédia (Potiche), para citar apenas seus títulos mais recentes – e por sua incrível produtividade (praticamente um filme por ano, assim como o cineasta novaioquino). DENTRO DA CASA, que estreou no último ano na Europa e chega neste final de semana a Vitória, no Cine Jardins, é também uma novidade na filmografia do diretor e um dos filmes mais interessantes que o cineasta já produziu. A história, que mostra a relação entre um professor e seu aluno, este um meticuloso adolescente que desperta a tutela de seu mestre por sua capacidade pouco comum para a literatura, é um exemplar cheio de artimanhas: Ozon constrói uma trama cujo universo ficcional (o criar literário do jovem aluno) se mistura a seu próprio filme. Ele entrega “meias-verdades” ao espectador (nesse caso também expectador, tamanha agonia que o cineasta envolve sua plateia naquilo que está por vir), que por sua vez transforma as informações a sua maneira, investigando junto do professor protagonista o que é o ‘real’ e o que é ‘ficção’ (dentro do filme). O grande acerto de Ozon para permitir que seu público trabalhe a leitura do roteiro enquanto ele exibe o que precisa ser visto é conseguir conectar toda essa encenação de modo a não segmentar os atos ‘reais’ e ‘ficcionais’ que existem dentro do filme. A perspicácia do outro protagonista, o aluno, é outro importante ponto de apoio para Ozon, uma vez que tanto roteiro quanto a atuação do menino Ernst Umhauer são fundamentais para a abordagem: a facilidade do jovem em se tornar sedutor e sedutivo com os outros personagens do filme (a ponto de torná-los personagens de sua literatura, desvendar seus segredos e trazer à tona os mais profundos segredos/desejos de cada membro da casa que adentra para fazer disso a história da "redação escolar" que escreve) pula para o lado de cá da tela, e Ozon faz joguetes com o público, transformando-os em marionetes incomodadas com seus fios e amarras, da mesma forma com que o garoto faz com o restante dos personagens do filme. Mas o grande acerto cinematográfico do diretor também se torna seu maior pecado quando ele traz uma desnecessária presença fantasiosa de personagens que entram em cena e dialogam com sua própria consciência – algo que Bergman e o próprio Woody Allen fizeram em seus filmes de modo bastante funcional e quase poético, mas que aqui soa apenas como confusão excessiva. Um pequeno deslize numa obra incrivelmente fascinante, tal qual seu plano final, uma clara homenagem ao mais voyeur dos filmes já feitos na história do cinema, JANELA INDISCRETA




dans la maison
frança, 2012
de françois ozon
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DENTRO DA CASA está em cartaz a partir desta sexta-feira, 09 de maio, no Cine Jardins.