sexta-feira, 29 de novembro de 2013


Jasmine abandona Manhattan pelo subúrbio de San Francisco, onde passa a viver com a irmã, nitidamente menos abastada que ela, o namorado grosseirão e os sobrinhos pouco educados. A derrocada veio após uma série de incidentes em sua vida glamourosa: a prisão do marido fraudador, a perda dos bens e fortuna, a descoberta das inúmeras amantes do esposo - que frequentaram sua mansão ao longo dos anos -, e o filho que abandona Harvard e foge sem notícias após a confusão armada. Jasmine, nascida Jeanette, filha de pais adotivos, largou a faculdade de antropologia no momento em que conheceu seu marido. Frívola, fútil, mesquinha, interesseira e esnobe são alguns de seus adjetivos, desvendados em uma série de flashbacks que atravessam seu momento atual. Apaixonada pela canção ‘Blue Moon’, representação de sua elocubrada vida de sonhos, a blue Jasmine desce ao inferno e fica à beira de um colapso nervoso, que a transforma.

Blue Jasmine

Com BLUE JASMINE, revisitando um dos maiores clássicos do teatro e do cinema norte-americano (Um Bonde Chamado Desejo/Uma Rua Chamada Pecado), o mais verborrágico dos cineastas da história do cinema, o mestre Woody Allen, surpreende outra vez pela capacidade de simplificar a narrativa que faz nascer uma das personagens mais fortes que o diretor e roteirista construiu ao longo de quase cinco décadas de trabalho. Cate Blanchett, a protagonista, em nada deve à atuação de Vivien Leigh (de UMA RUA CHAMADA PECADO), que é facilmente uma das melhores da história do cinema: ela carrega um olhar aterrador, capaz de transmitir desprezo ou transfigurar seu próprio transtorno, dando à Blanchett a possibilidade de atuar de uma ponta a outra do comportamento humano.

É a soberania e inteligência de um cineasta que, em aparente acaso (Woody faz questão de deixar claro que filmar é um exercício delicioso, desde que ele possa atravessar a rua e dormir em sua cama após um dia de filmagens) faz seu filme nascer na sala de montagem, de posse da magnitude das imagens que carrega debaixo do braço após o período em que ‘brincou’ de encenar a vida real... uma daquelas coisas que só o cinema é capaz de fazer. Lindo, lindo. 
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Para ver: BLUE JASMINE (idem, 2013, de Woody Allen). Com Cate Blanchett, Sally Hawkins, Alec Baldwin.
Cotação:
  

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BLUE JASMINE está em cartaz no Cine Jardins