quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

OSCAR 2014, véspera. Nessa reta final para a premiação, alguns experts no prêmio já deram seu parecer para essa disputa que parece ser a mais divida e incerta dos últimos anos. Lá no GoldDerby, que reúne trinta críticos de cinema e conhecedores do assunto, o placar ficou assim:


FILME
12 Anos de Escravidão 65%
 Gravidade 25%
Trapaça 2%

DIRETOR
Alfonso Cuarón 93%
Steve McQueen 3%
David O. Russel 2%

ATOR
Matthew McConaughey 90%
Leonardo DiCaprio 5%
Chiwetel Ejiofor 3%

ATRIZ
Cate Blanchett 93%
Amy Adams 3%
Sandra Bullock 2%

ATOR COADJUVANTE
Jared Leto 93%
Michael Fassbender 3%
Barkhad Abdi 2%

ATRIZ COADJUVANTE
Lupita Nyong'o 84%
Jennifer Lawrence 12%
June Squibb 2%

ROTEIRO ORIGINAL
Trapaça 51%
Ela 45%

ROTEIRO ADAPTADO
12 Anos de Escravidão 90%
Philomena 5%


Aqui no Brasil, a jornalista Ana Maria Bahiana traçou sua visão aqui. E o amigo Chico Fireman, do Filmes do Chico/UOL, analisou aqui de modo bastante interessante o panorama montado nessa reta final, com a disputa em aberto na maioria das categorias, reforçando a visão mostrando a disputa nos anos anteriores. 

Já o Awards Daily, provavelmente o maior site que se debruça em cima do prêmio, desde a antecipação dos filmes até a premiação final, cobrindo a temporada anualmente, faz algumas simulações interessantes. No dia 25 de Fevereiro, um dos colaboradores do site, Marshall Flores, definiu alguns favoritos diferente do que rola por aí, cravando GRAVIDADE melhor filme, Jennifer Lawrence melhor atriz coadjuvante e CAPITÃO PHILLIPS melhor roteiro adaptado. Hoje, em uma simulação caprichada das rodadas de apuração de votos, Ryan Adams crava praticamente um empate na categoria principal, mostrando o equilíbrio entre os favoritos:


Domingo, dia 02 de Março, às 23h (horário de Brasília), a cerimônia terá início sob apresentação de Ellen DeGeneres, revelando os vitoriosos do ano.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Meus preferidos da lista da Academia para a categoria de Melhor Filme no Oscar 2014: GRAVIDADE ~ O LOBO DE WALL STREET ~ ELA ~ 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO ~ NEBRASKA CAPITÃO PHILLIPS ~ PHILOMENA ~ TRAPAÇA ~ CLUBE DE COMPRAS DALLAS

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Com TRAPAÇA, o diretor David O. Russell constrói um universo fake e exagerado, cujo plot não dá pra se levar muito a sério (trata-se de uma grande brincadeira, sem qualquer conteúdo mais denso, que envolve os percalços de um casal de agiotas recrutados por um agente do FBI para desvendar as operações ilícitas de um mafioso). Dizem por aí que é uma 'homenagem' ao cinema norte-americano dos anos 70, o que fez do filme figurar na maioria das listas de melhores do ano (a maioria das indicações são um grande exagero, provavelmente pelo respeito que o diretor vem adquirindo junto à crítica hollywoodiana nos últimos anos). É uma comédia cheia de farsas, permeada de pequenas delícias: a trilha sonora com canções dos anos 60 e 70; algumas cenas memoráveis (especialmente as que envolvem as atrizes); Amy Adams e Jennifer Lawrence esplendorosas brigando por um homem barrigudo e feioso (o fraquíssimo Christian Bale); e uma sequência sensacional ao som de Live and Let Die, de Paul McCartney.

Para ver: TRAPAÇA (American Hustle, 2013, de David O. Russell). Com Christian Bale, Amy Adams, Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Jeremy Renner.
Cotação: 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Além das competentes atuações de Matthew McConaughey e Jared Leto, nada vai muito além do "ok, próximo" para CLUBE DE COMPRAS DALLAS - por vezes bastante irritante em sua tentativa de dar fôlego a seu argumento. É uma narrativa burocrata sobre um cidadão americano que, nos anos 80 e no auge do surto de transmissão do vírus da AIDS, diante dos tratamentos ineficazes utilizados pelo sistema de saúde dos Estados Unidos, decide buscar ele mesmo novas fontes de tratamento junto às pesquisas acadêmicas e distribuir a droga para outros portadores do HIV. Obviamente que o protagonista vai provar para o país inteiro que ele estava certo em relação aos novos medicamentos, muito mais eficientes, salvando a nação. 

Para ver: CLUBE DE COMPRAS DALLAS (Dallas Buyers Club, 2013, de Jean-Marc Vallée). Com Matthew McConaughey, Jared Leto, Jennifer Garner, Denis O'Hare, Steve Zahn. 
Cotação: 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Amor Pleno
Amor Pleno, 2013, de Terrence Malick.

O diretor britânico Steven McQueen (do sensacional SHAME, de dois anos atrás) escreve seu nome no cinema norte-americano tocando em uma das maiores feridas da história dos Estados Unidos: a escravidão negra. Baseado em fato real, a narrativa acompanha doze anos da vida de Solomon Northup (o ótimo Chiwetel Ejiofor, na disputa do Oscar de Ator do ano) durante o século XIX. De negro liberto, com família constituída e trabalho nobre, Solomon é sequestrado e vendido como escravo para trabalhar nas fazendas de algodão do sul escravagista. 

McQueen usa o ótimo roteiro de John Ridley para escancarar os maus tratos e a aflição sofrida pelos negros durante aquele período e, talvez inspirado pelo classicismo da época, constrói seu cinema da mesma forma: grandes paisagens naturais, grandes cenários de edificações com interiores minuciosamente decorados, papéis fortes, densos, com (quase) a mesma complexidade vista em seu filme anterior, e incrivelmente bem atuados em cenas marcantes.

Colocando 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO no mesmo patamar que GRAVIDADE (já que estes parecem ser os filmes de 2013 para o cinema norte-americano), o filme de Steve McQueen ganha a disputa pela pertinência moral, social e histórica de sua obra, mas perde em todas as outras. É um belíssimo registro de uma época que merece ser lembrada para nunca mais ser repetida - filmado em belas cenas mas mantido à certa distância pelo diretor. Talvez falte um pouco mais de alma ou coração (como os que surgem das lágrimas de Lupita Nyong'o ao tronco e da tocante cena final) para tirar da obra certo gosto insípido que fica após sua exibição.
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Para ver: 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO (Twelve Years a Slave, 2013, de Steve McQueen). Chiwetel EjioforMichael K. WilliamsMichael FassbenderBrad Pitt, Quvenzhané Wallis, Adepero Oduye, Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Sarah Paulson, Lupita Nyong'o
Cotação: 


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

"O momento em que choramos em um filme não é quando as coisas ficam tristes, mas quando elas acabam sendo mais bonitas do que esperávamos que fossem." 

Alain de Botton, filósofo.

PHILOMENA aposta na ciclicidade da história do bebê roubado da personagem título, vivida por Judi Dench, como dorso principal de sua narrativa, o que ajuda a legitimar a história real, que se contada com bem menos cuidado do que o diretor Stephen Frears trata, certamente cairia em um dramalhão. Vejamos: jovem freira transa com um cara numa noite e engravida; as irmãs do Convento tiram o filho de seu convívio, o menino é adotado por uma família de outro país, e depois de 50 anos a mãe, junto a um jornalista decadente, inicia a busca pelo garoto, e descobre que ele se tornou importante figura política, ao mesmo tempo que manteve às escuras um sólido relacionamento homossexual, findado por conta de sua morte prematura, após adquirir o vírus da AIDS. O diretor inglês aposta firme em seus atores e a direção caminha estabelecendo um laço forte entre eles e se apoiando em ambos, mas sem exagerar nos sentimentalismos ou nos posicionamentos clichês, o que engrandece bastante a trama, tratando o assunto com impressionante sobriedade.
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Para ver: PHILOMENA (idem, 2013, de Stephen Frears). Judi DenchSteve CooganSophie Kennedy ClarkMare Winningham
Cotação: 


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

ELA provavelmente é um daqueles filmes que detém potencial e qualidades para se tornar um referencial da história da sétima arte ou um exemplar extremamente representativo de sua época. É a reinvenção do cinema clássico em uma narrativa incrivelmente contemporânea (sob essa ótica, se encaixa no mesmo padrão de "A Rede Social", de David Fincher). Joaquin Phoenix encara um difícil personagem que se apaixona e vive um relacionamento com um programa de computador inteligente, uma espécie de secretária pessoal informatizada, capaz de controlar tudo em poucos segundos - além de se relacionar incrivelmente bem com seu proprietário. Samantha, a mente inteligente, é loquaz, doce, sensível e um bocado humanizada, que ganha vida na soberba voz de Scarlett Johansson (que nunca tem um rosto em todo o filme). O encontro entre os dois beira o sublime pela honestidade dos sentimentos, e o filme toca em questionamentos realmente fortes sobre os relacionamentos dos dias hoje e sobre sentir-se sozinho em meio ao mundo e ao caos diário. Em alguns momentos, há uma tentativa desnecessária de paralelizar a situação com um espelho de outro relacionamento "normal" que degringolou do dia pra noite (na pouco aproveitada personagem de Amy Adams), o que tira o brilho pleno do enredo de Spike Jonze, mas que merece ser minimizado diante das virtudes apresentadas pelo roteirista e diretor.
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Para ver: ELA (Her, 2013, de Spike Jonze). Com Joaquin Phoenix, Scarlett Johansson, Olívia Wilde, Rooney Mara, Amy Adams, Chris Pratt. 
Cotação: 


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ELA está em cartaz nos cinemas a partir de sexta, 14 de fevereiro.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Com a epopeia de Adèle no alardeado AZUL É A COR MAIS QUENTE, que arrebatou a Palma de Ouro em Cannes na edição de 2013, o diretor Abdellatif Kechiche implode sua protagonista de dentro pra fora, durante os anos de amadurecimento sexual e sentimental da jovem, próximo aos dezesseis-dezoito anos, revelando sua atração por mulheres. Do primeiro olhar de canto de olho para uma amiga da escola, passando ao primeiro beijo ("de brincadeira"), a constatação de que é diferente da maioria das garotas de sua idade a leva ao afastamento dos meninos, ao distanciamento da família (mesmo morando debaixo do mesmo tempo) e ao recolhimento que busca respostas que quase imediatamente a levam a um mundo inicialmente desconhecido - personificadas por Emma, a menina dos cabelos azuis - que formará o restante de sua personalidade, Se a naturalidade da proposta de Kechiche ao lidar com um assunto tão tabu de forma tão sincera choca com as provocantes, longas e corajosas cenas de sexo que a interprete Adèle Exarchopoulos e sua companheira de tela Léa Seydoux fazem, isso também justifica a necessidade do autor em tratar o assunto nesses termos. As duas atrizes brilham, e não foi por acaso que pela primeira vez o festival francês consagrou duas atrizes com a Palma de Ouro (além do filme).

Como o título original indica ("La vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2") o diretor e roteirista propõe uma construção narrativa sem segmentação para os dois capítulos da vida da personagem, que poderiam ser chamados de antes e depois de conhecer Emma. Mas de fato, o que temos são três momentos em cena: a descoberta da sexualidade da personagem, seu romance e o pós-relacionamento. É tudo lindo e de uma coragem formidável, que como todo grande filme, merece ser recebido de peito aberto e sem pressão. 

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Para ver: AZUL É A COR MAIS QUENTE (La vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2, 2013, de Abdellatif Kechiche). Com Adèle ExarchopoulosLéa SeydouxBenjamin Siksou.
Cotação: