domingo, 27 de abril de 2014

A Liga dos Blogues Cinematográficos, associação que divulga mensalmente as avaliações dos filmes lançados no circuito comercial do país, avaliou os lançamentos de janeiro e fevereiro. No ano, os dez melhores filmes avaliados até agora são: 


sexta-feira, 25 de abril de 2014



Os filmes HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO (idem, 2014), do brasileiro Daniel Ribeiro, e GAROTOS (Jongens, 2014), da holandesa Mischa Kamp, fizeram sua estreia mundial praticamente juntos – em fevereiro passado, no Festival de Berlim, e na TV de seu país de origem, respectivamente – e mesmo vindos de cinematografias distintas, evocam em suas discussões a descoberta sexual de seus protagonistas adolescentes como representação do momento da conquista da liberdade individual. Esse interessante diálogo entre as obras avança, ainda, para dentro de suas formulações e composições, estabelecendo caminhos similares que são propostos por seus diretores, ainda que preservadas suas particularidades. Vejamos:


- A sutileza do primeiro amor -

Ambos os filmes podem ser encarados como alegorias para a história do primeiro amor da vida de qualquer moleque, que nos cinemas ficou famoso nos anos noventa com a celebração de Macaulay Culkin e Anna Chlumsky em MEU PRIMEIRO AMOR (My Girl, 1991, de Howard Zieff). Mergulhados em uma narrativa clássica, os dois filmes apostam na sutileza do relacionamento entre seus protagonistas como manejo da construção cenográfica. A empatia e a espontaneidade das ações que acompanham a formação desse sentimento acaba por reduzir e desestimular rótulos e estereótipos sobre suas paixões: o fato de Leo e Gabriel estamparem o pôster do filme brasileiro, enquanto Sieger e Marc estarem lado a lado na produção holandesa é mero acaso. Para Daniel Ribeiro e Mischa Kemp, não há uma causa a ser defendida ou uma bandeira que precisa ser levantada. É através da naturalidade das situações que surge o encantamento entre os garotos.

O filme brasileiro apresenta como pano de fundo o cotidiano escolar dos adolescentes Leonardo e Gabriel, às voltas com trabalhos escolares, festas e decisões sobre o futuro. Leo, que é deficiente visual, se apaixona pelo colega recém-chegado à escola, ao passo que lida com a atribulada relação com Giovana, sua melhor amiga. O filme se mostra um pouco mais interessado em desenvolver uma problemática sobre o assunto ao complexar a trama com uma discussão bem mais textual a respeito da liberdade que anseia a idade, com diálogos que se debruçam nas questões que envolvem os obstáculos de Leo: a cegueira, a vontade de romper a dependência dos pais e a aceitação do desejo. Já no exemplar holandês, o cenário é o time de atletismo em que Sieger é recém-incorporado. Ao encontrar Marc, o atleta mais importante da equipe, o garoto desenvolve uma amizade imediata que funciona como refúgio para a carência afetiva familiar que possui. O filme aposta em uma menor intervenção de diálogos na trama e abusa de imagens ora mais contemplativas, ora cheia de indução sobre os acontecimentos, reforçando a confusão com a presença de outra garota, Stef – mas escapando, quase sempre, do dramalhão. A panoramização buscada pelos diretores para refletir a liberdade da paixão em suas obras reflete, em vários momentos, na adoção de uma câmera em planta baixa, como se buscando contemplar no quadro da câmera toda a cena possível (tal qual faz um arquiteto, ao estudar a gênese de um ambiente).
  


- Entre um passeio de bicicleta, o beijo roubado -

Os universos pautados pela sutileza são fortemente norteados por dois importantes elementos comuns aos dois filmes: o beijo e o passeio de bicicleta. O primeiro, equivalente à representação maior da paixão, momento de entrega ao sentimento e, para um adolescente, seu primeiro contato com o universo romântico do mundo dos adultos, surge em momentos distintos no dorso narrativo de cada um dos filmes, ditando as particularidades de ritmo de cada obra. Enquanto o filme brasileiro aposta numa paixão que chega a transitar pelo suspense (“isso também está acontecendo com o Gabriel?”, poderia se questionar Leo) até a confirmação daquilo que todo o tempo foi sugestionado (com um beijo já bem perto do fim), o filme holandês aposta numa surpresa de pronto (um beijo no terço inicial do filme), para só depois situar-se no desenvolvimento do foco principal da trama. Nas duas produções, no entanto, ele assume sua face mais atraente: surge roubado. O outro elemento, os passeios de bicicleta, de presença constante nas narrativas, mas que também rende pequenas sequências memoráveis, é apresentado como símbolo dessa liberdade desejada pelos protagonistas, que ao longo dos filmes ganham contornos diferentes (bem mais pueril para os personagens de HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO e transformador para os de GAROTOS).

Ao som de Belle e Sebastian e M83, Daniel Ribeiro e Mischa Kemp encerram suas histórias de liberdade reforçando uma ideia de continuidade (“o que acontece a partir de agora?”, possivelmente Sieger disse a Marc) – como se a empatia criada entre o público e seus personagens possibilitasse uma existência para além do apresentado em seus filmes, cujas escolhas (muitas vezes questionáveis), solidificassem o desejo maior do espectador, de perpetuação de momentos tão agradáveis dentro do cinema.


Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, 2014, de Daniel Ribeiro.


terça-feira, 22 de abril de 2014

Nesse feriadão assisti a HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO e o que posso dizer é que o filme é imperdível - lindo, lindo. Em breve volto aqui pra contar mais. Por enquanto, vale a discussão proposta pelo amigo Mateus Nagime sobre o impacto das redes sociais no público do filme nos cinemas. Aqui em Vitória, o filme segue em cartaz lá no Cine Jardins.


quinta-feira, 17 de abril de 2014




Olivier DAHAN
GRACE DE MONACO
(filme de abertura)


COMPETIÇÃO OFICIAL:




Olivier ASSAYAS
SILS MARIA
Bertrand BONELLO
SAINT LAURENT
Nuri Bilge CEYLAN
KIS UYKUSU
David CRONENBERG
MAPS TO THE STARS
Jean-Pierre DARDENNE e Luc DARDENNE
DEUX JOURS, UNE NUIT
Xavier DOLAN
MOMMY
Atom EGOYAN
CAPTIVES
Jean-Luc GODARD
ADIEU AU LANGAGE
Michel HAZANAVICIUS
THE SEARCH
Tommy Lee JONES
THE HOMESMAN
Naomi KAWASE
FUTATSUME NO MADO
Mike LEIGH
MR. TURNER
Ken LOACH
JIMMY’S HALL
Bennett MILLER
FOXCATCHER
Alice ROHRWACHER
LE MERAVIGLIE
Abderrahmane SISSAKO
TIMBUKTU
Damian SZIFRON
RELATOS SALVAJES
Andrey ZVYAGINTSEV
LEVIATHAN


UN CERTAIN REGARD:


Marie AMACHOUKELI, Claire BURGER e Samuel THEIS

  PARTY GIRL (1st film)
(filme de abertura)

Lisandro ALONSO
SIN TITULO
Mathieu AMALRIC
LA CHAMBRE BLEUE
Asia ARGENTO
INCOMPRESA
Kanu BEHL
TITLI (1st film)
Ned BENSON
ELEANOR RIGBY
Pascale FERRAN
BIRD PEOPLE
Ryan GOSLING
LOST RIVER (1st film)
Jessica HAUSNER
AMOUR FOU
Rolf de HEER
CHARLIE’S COUNTRY
Andrew HULME
SNOW IN PARADISE (1st film)
July JUNG
DOHEE-YA (1st film)
Panos KOUTRAS
XENIA
Philippe LACÔTE
RUN
Ruben ÖSTLUND
TURIST
Jaime ROSALES
HERMOSA JUVENTUD
WANG Chao
FANTASIA
Wim WENDERS e
 Juliano RIBEIRO SALGADO
THE SALT OF THE EARTH
Keren YEDAYA
HARCHECK MI HEADRO


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Na ocasião do lançamento de HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO aqui em Vitória (o filme entra em cartaz no Cine Jardins, na próxima quinta-feira) o jornalista Leonardo Vais, do SouES, entrevistou o diretor Daniel Ribeiro, que sintetizou seu trabalho: “é uma história de amor, não muito comum, mas muito bonita de se ver”. O filme estreou no Festival de Berlim, em março, e está em cartaz no país.


Fazia bastante tempo que o mais tradicional dos produtos da Disney (as fábulas de princesa) não despertava tanto interesse e elogios quanto Frozen: Uma Aventura Congelante. E todas as boas críticas são merecidas: baseado no conto A Rainha da Neve de Hans Christian Andersen, o filme tem ótimas cancões inseridas numa narrativa muito eficiente, em que apresenta duas princesas órfãs às vésperas da coroação da irmã mais velha, uma pseudo-vilã, cuja construção da personagem salta aos olhos (ela não é totalmente boa, mas as 'maldades' também não são, de certa forma, propositais). Os diretores Chris BuckJennifer Lee fogem do lugar-comum com os bichos falantes dos filmes Disney e apostam numa tática-Pixar: um encantador boneco de neve falante, cuja existência se apresenta totalmente explicada pelo contexto da narrativa. No lançamento brasileiro, destaque para as boas transposições das músicas originais e pela dublagem de Fábio Porchat como Olaf, o divertidíssimo boneco de neve. O filme ganhou o Oscar de Melhor Filme de Animação, Melhor Canção e se tornou a maior bilheteria mundial para um filme de animação na história do cinema - a 9ª entre todos os filmes. 

Para ver: FROZEN - UMA AVENTURA CONGELANTE  (Frozen, 2013, de Jennifer Lee). Com as vozes de Idina Menzel, Kristen Bell e Jonathan Groff.
Cotação:
 

quinta-feira, 10 de abril de 2014

terça-feira, 8 de abril de 2014


Rechaçam NOÉ, o filme de Darren Aronofsky, por ser uma “representação pessoal do diretor para a história bíblica, que privilegia mudanças narrativas e inclusão de elementos fantásticos”. Julgamentos que me parecem soar inapropriados, baseados em argumentos aparentemente sem sentido – se não cabe a uma obra de ficção a representação de um universo pela visão de seu autor, a quem cabe? Suponho que o que confere ou não valor a uma obra artística não parece ser o caminho pelo qual escolhe seguir, mas de que forma ele é construído. Exatamente onde o filme de Aronofsky falha.

A adaptação de Darren é uma história incrivelmente pessoal e ele volta ao Éden de Adão e Eva para mostrar que os dias atuais é uma sucessão de erros advindos da serpente e da maçã: a Terra se tornou um lugar cinza e desolado pelas mãos do próprio homem (descendente de Caim, que matou Abel), corrompido pelos piores adjetivos. Ao situar a narrativa sob o olhar de Noé (descendente de Set, o irmão bom do trio dos filhos do paraíso), reforça o mal-estar humano existente além dos limites de seu clã – que o leva à obediência cega dos pedidos do Criador para a construção da Arca que salva sua família e um casal de cada animal existente, relegando o restante dos seres vivos à morte. O diretor aposta em um protagonista temente (papel que coube bem a Russell Crowe), capaz de concluir, como o Deus bíblico do Gênesis fez, que o mal está no homem desde sempre. Narrativamente, este talvez seja o ponto chave para se entender o Noé de Aronofsky, que não mostra a complacência de Deus para justificar a permanência do homem sobre a Terra pós-Dilúvio. Daí vem as mudanças de maior impacto à história original (principalmente na inserção da personagem de Emma Watson e de Ray Winstone). Algumas são boas sacadas no roteiro e respondem bem aos questionamentos que qualquer criança que um dia frequentou uma aula de catequese já se fez. Outras soam desconexas, como o excesso de vértices dramáticos no clímax do filme. O grande problema é que quase todas elas são visualmente fajutas.

Por que essa, talvez, seja essa a maior característica do filme de Aronofsky: brega. NOÉ é um filme incrivelmente brega. Começando pelo tom fabulesco e forjado do paraíso dos pais de Set (que se tornaram sombras imersas no verde das árvores, emboscados pela tentação da serpente que troca de pele - e se torna souvenir de Noé! - e pelo fruto vermelho que pulsa nos galhos); passando pela estranha figuração dos anjos guardiões da humanidade (seres petrificados que parecem saídos de uma mistura dos universos O Senhor dos Anéis e Transformers); e a presença do sábio Matusalém, interpretado por Anthony Hopkins, uma espécie de Mestre dos Magos que confirma os passos de Noé (facilmente descartado da narrativa, que inclusive resolveria situações forçadas do roteiro).

Ainda assim, o diretor constrói boas sequências exatamente de onde se espera que venham: a construção da arca, o dilúvio, o desespero da humanidade e a sobrevivência sobre águas. E consegue finalizar em sua própria encenação o julgamento que o próprio Deus bíblico faz de sua ação: todo homem é inclinado ao mal, inclusive seu próprio protagonista. 
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Para ver: NOÉ (Noah, 2014, de Darren Aronofsky). Com Russell Crowe, Jennifer Connelly, Emma Watson, Anthony Hopkins, Ray Winstone, Logan Lerman, Douglas Booth.
Cotação:


domingo, 6 de abril de 2014

quarta-feira, 2 de abril de 2014

300: A ASCENSÃO DO IMPÉRIO foge das duas fórmulas mais conhecidas para se fazer uma continuação de um blockbusters hollywoodiano: as narrativas que simplesmente dão prosseguimento aos fatos apresentados no filme original; e as que mostram eventos anteriores aos fatos originalmente filmados, chamadas de prequel. Essa sequência do filme de 2006 tem sua história situada paralela aos acontecimentos do filme de Zack Snyder e a interligação com a trama original, mesmo que passando raspando na maior parte dos momentos, estabelece certa conexão que funciona (não traz elementos que prejudicam a lembrança do original, nem deixam barrigas para essa sequência). A presença de Zack como colaborador do roteiro e produtor pode explicar isso.

A direção cabe ao novato Noam Murro, e a piada-pronta com o exagero dos abdomens super trabalhados também cedo espaço aos efeitos visuais que agora se apoiam ainda mais na exacerbação da violência: longos closes e slow motions de cortes, decapitações e sangue voando nos quatro cantos da tela. Braços, pernas e cabeças se soltam dos corpos em câmera lenta, que fazem do filme um tipo de cinema que busca o asco a todo instante - precisa ter estômago para encarar. Fora isso, a trama que envolve a batalha entre gregos (agora atenienses, liderador por Temístocles, interpretado pelo ator Sullivan Stapleton) e persas ganha a presença de uma personagem feminina, Artemísia (Eva Green), que mesmo com a vilania assumida, tem um passado cheio de argumentos forçados, deixando o filme carente de assumir uma posição entre os dois lados batalha na primeira metade da trama.

Para ver: 300: A ASCENSÃO DO IMPÉRIO  (300: Rise of an Empire, 2014, de Noam Murro). Com Sullivan Stapleton, Eva Green, Lena Headey, Rodrigo Santoro.
Cotação: